Recordar é chorar emoções



Já passam das seis e meia da tarde e o calor continua agonizante. Depois de alguns minutos de chuva intensa em Videira, voltei a ligar o ventilador, pois o sol voltou a brilhar, vigorosamente. Há uns dez anos atrás, aproximadamente, eu costumava gostar desse clima incerto de Santa Catarina. Dentro de uma barraca, num camping de Garopaba, tudo era festa e alegria. Uma hora de maiô e na hora de pijama. Na cidade, e bem mais velha, isso não tem nada de divertido...

Enfim, tento me habituar a mais essa condição na Terra do Nunca. Confesso que não é nada fácil, principalmente num domingo. Num solitário final de domingo. Principalmente, num solitário final de domingo e 24 horas depois de momentos de saudosismo, de emoção, de lembranças difíceis, mas doces.

Há essa hora, ontem, eu estava sentada em uma poltrona no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina da cidade. Era a cerimônia de outorga de bacharelado da Taciana Denise Tomasi. Hoje enfermeira graduada. Ao meu lado estava a companheira de apartamento dela, a Graci, que levou um pacote de lenços de papel por que ela é uma chorona. Se dependesse dela, não teria usado nenhum... Em compensação, minha única folha ficou encharcada.

Eu me formei há oito anos, completados em 5 de janeiro último. Nesse período todo, eu burlei todas as cerimônias do tipo, por que acho muito chato. Casamentos e 15 anos eu aboli da minha vida também. Todo mundo me via sempre nas recepções e bailes. Mas ontem eu fui. A Taci é a namorada do meu amigo. Eu até cheguei a pensar em ir mais tarde, mas não o fiz. Estava lá, sentadinha. E pensei que passaria impune a emoção, não fosse eu lembrar cada momento em que recebi o título de bacharel em comunicação social, habilitação em jornalismo.

Pedi um lenço para a guria, minutos depois de tê-lo rejeitado. Minutos depois do primeiro desconhecido começar a descer a rampa do auditório e ir em direção ao palco. E em seguida aconteceram todos os flashes back possíveis: a falta de grana pro ticket do trem e pras apostilas; as festas dos cursos co-irmãos; as novas amizades (que estão comigo até hoje); as paixões frustradas; as angústias sobre um futuro incerto; as vitórias acadêmicas; os pré-conceitos e a discriminação; as interrupções; as certezas sobre a escolha, depois de muitas dúvidas; as escolhas; os erros e os acertos.

Cada um que passava carregava a esperança de novos tempos, depois da conclusão de um ciclo. Pensei que depois de muitos anos, essa sensação não fosse mais novidade pra mim, afinal, vivo o doce e o amargo da minha profissão. Estou em outra fase. Tenho outros sonhos, outras metas, expectativas, oportunidades pela frente, com os quais me preocupar. Mas não. A mente da gente é uma viagem. E ontem eu tive que recordar e lembrar um rito de passagem que, outrora foi muito importante. Talvez para que eu não esqueça nunca do caminho que escolhi e do que tive que enfrentar para chegar onde estou. Talvez, eu tivesse que me emocionar ontem, para não esquecer o quanto essa escolha me foi cara e o quanto é importante para mim.

Molhei as calcinhas ontem, de tanto que chorei. Num certo momento, a vontade que tive foi de beijar cada rosto, desejar sucesso, e agradecer pela oportunidade em relembrar. Relembrar sobre o que fui e sou, de quem esteve e está ao meu lado, do que quis e tenho agora, de reforçar as metas que me levarão para o que ainda quero ser e onde quero estar. Obrigada formandos.

Obrigada Taci!

Comentários

Lidia Ferreira disse…
belo texto amiga , emocionante , relembrar e viver
bjs
Nanda Assis disse…
q linda, adoro te ver assim.

bjosss...
Anônimo disse…
Então menina...antes de me formar, não perdia uma dessas cerimônias. Era a coisa que eu mais gostava, e ficava imaginando quando chegaria a minha vez. Depois da minha formatura, comecei a não apreciar tanto assim esses eventos, mas a recordação daquele meu dia sempre vem à toda. Também faz 8 anos que me formei. E aquele dia está todo gravado na minha memória. Afinal, foi o encerramento do ciclo mais importante da minha vida: o tempo da faculdade. Ah, e que tempo!!!! Teve coisa melhor? Acho que ainda não....aqueles anos foram os melhores, foram incríveis e memoráveis. Talvez a época mais feliz...

Rou.
Iaran disse…
Snifs.. bem lindo Elaine, Aliás, muito lindo. Obrigado... por nós. Beijo de carinho

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