Livro põe mulheres negras na História

Por Rafael Sampaio - Pnud

Até há pouco tempo, elas eram quase sempre invisíveis para a maioria dapopulação e pouco conhecidas pela História do Brasil. Vítimas de duplopreconceito, tanto de gênero quanto racial, as mulheres negras tornaram-setema de um livro com 496 páginas e mais de 950 imagens, que esquadrinha ahistória dessas pessoas, desde a Colônia até a época atual.
Intitulada Mulheres Negras do Brasil, a obra foi escrita por SchumaSchumaher, coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano, e pelohistoriador Érico Vital Brasil.
Parteiras, mães-de-santo, professoras, atrizes, cantoras, engenheiras,diplomatas e até misses são personagens do livro. Algumas vezes, a procurade dados era difícil, e foi necessário usar métodos "pouco ortodoxos",revela Vital Brasil. Por exemplo: para encontrar a família da primeiraengenheira negra do país, a paranaense Enedina Marques, os autoresrecorreram à lista telefônica. "Nem a associação de engenheiros do Paranátem registros da sua existência", diz o pesquisador.
No total, o livro reúne mais de mil perfis, biografias e citações a mulheresnegras. Há desde celebridades esportivas, como a ginasta Daiane dos Santos ea jogadora de basquete Marta Sobral (que disputou as olimpíadas de 1992,1996 e 2000, tendo conseguido medalhas nas duas últimas) até precursorasmenos conhecidas, como, ainda na área de esportes, a corredora Melânia Luz,a primeira atleta negra brasileira a disputar Olimpíada, em 1948, emLondres.
Uma das mais curiosas personagens do livro é a ex-escrava Teresa Benguela,que liderou por duas décadas, entre 1750 e 1770, um quilombo no Mato Grosso,em uma região chamada de Quaritetê, próximo do município hoje conhecido comoCuiabá. Segundo o livro, o quilombo tinha Parlamento, economia baseada naagricultura de algodão e na confecção de tecidos, que eram negociados nascidades próximas. Hoje, quase 240 anos depois da destruição do quilombo, umaestátua foi erguida em homenagem a Teresa, no município de Vila Bela daSantíssima Trindade, perto da terra onde os negros outrora resistiram porduas décadas à escravidão.
O livro faz parte do projeto Mulher, 500 Anos atrás dos Panos, iniciado háuma década pela Rede de Desenvolvimento Humano. O objetivo é fazer umaleitura crítica das comemorações do Descobrimento do Brasil a partir doponto de vista feminino, que, segundo Vital Brasil, "foi relegado àsentrelinhas da História". O projeto tem apoio do UNIFEM (Fundo deDesenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), do Banco do Brasil, daSecretaria Especial para a Promoção de Políticas de Igualdade Racial, daPetrobras e da Global Fund for Woman.
Na avaliação de Vital Brasil, há um "racismo social" brasileiro, quedificulta a pretos e pardos disputar cargos intelectuais e políticos, pararelegá-los aos trabalhos braçais e mal-remunerados. Dados do IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística) apontam que, em 2005, uma mulhernegra ganhava por hora de trabalho apenas 47,2% do que era pago a um homembranco. "Para o livro, reunimos os registros históricos das primeirasmulheres negras que foram psicanalistas, médicas, advogadas e sindicalistas, rompendo essa tradição do trabalho", afirma o pesquisador.
No Brasil, o PNUD apóia o projeto Mulheres Negras Participando na Formulaçãode Políticas de Igualdade Racial e de Gênero.

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