Adeus ano velho, a Deus ano novo




A vida é como uma gangorra. Um sobe e desce rápido demais para quem gosta de aproveitar os bons momentos. Por isso nunca gostei deste brinquedo.
Uma hora se está feliz. Em outro instante, triste. E a merda nesse vai e vem é que nem dá tempo para sentir aquele arrepio da instabilidade. É num rompante que tudo acontece.
2016 foi uma gangorra para mim. Como os momentos de baixa foram muito fortes, passei muito tempo perto do chão. E não é isso que almejei para mim. Queria estar mais perto da copa das árvores, sentindo a brisa fresca que passeia pelos galhos a tocar minhas bochechas rechonchudas.
Dona Morte visitou minha família duas vezes nesses 365 dias. Em fevereiro, quando minha mãe teve alta hospitalar, os médicos pediram para que começássemos a nos despedir dela. Levei oito meses após sua partida para acostumar com sua ausência. Para que a dor virasse saudade, ainda que intensa.
No meio desse período, meu irmão ficou dois meses hospitalizado. Antes disso teve crises de dores, de tristeza profunda e emagreceu mais de 40 quilos. E eu fazendo força para subir na gangorra.
Tentei sorrir, e em alguns momentos consegui. Afastei-me de alguns amigos e me aproximei de outros. Acontece. Viajei. Fui ao Uruguai, país que gosto demais, e quis ficar morando em Colônia do Sacramento. Mas voltei para casa. Para a família, que é tudo na vida da gente.
Consegui um freela bacana, com pessoas inteligentes e interessantes, e no meio de tantas ligações de escritórios de cobrança, consegui saldar parte das dívidas.  Outros amigos me indicaram para um trabalho e fui empregada. Estava leve. Era o momento de estar em cima, com a gangorra. Planejei, então, uma viagem ao Rio de Janeiro. A tour do samba, como denominou uma amiga e minhas novas parceiras de trip.
Nem mesmo um pequeno acidente de trânsito me abalou. Dano material não deve preocupar a gente.
Os meses foram passando e tudo se encaixando, aos poucos.  A gangorra subia e descia sem paradas extensas no nível da terra. Eu sorria mais freqüentemente e voltava ao contato social com todos meus amigos.
Estava no leme da minha vida, conduzindo tudo com parcimônia. Resolvendo problemas, ou, ao menos, encaminhando-os para que findassem. Eu, era então, um ser organizado. E feliz.
Novembro chegou e a viagem ao Rio não me empolgava, até sua véspera. Dia 21 fui indenizada e a grana serviu para custear meus prazeres na cidade maravilhosa, dois dias depois. Eram quatro dias com minhas amigas e três com minha irmã. Fiquei  devendo $15 ao Uber, mas não perdi o vôo. 10:05 da manhã do dia 23 de novembro, quarta-feira, embarcava, feliz. Estava de fato, nos ares. Gangorra parada em brancas nuvens.
Minha irmã me esperava para o almoço. Até motorista mandou para me buscar, enquanto ela trabalhava no horário do almoço para ficar comigo mais tarde. Trocamos várias mensagens engraçadas até ver o seu sorriso amarelo da nicotina e sentir seu abraço carinhoso. Então já não estava sozinha na felicidade. O reencontro mostrou isso.
Conheci os amigos dela. Que passaram a ser meus amigos também. Naquela quarta-feira fui mimada o tempo todo. Ela sabia do que gostava.
Na quinta, fui encontrar minhas amigas. A Trip do Samba começava. Fui na Escadaria Selaron e na Lapa, onde dancei e bebi e me diverti. E de tudo a Elenara pedia fotos. Pedia para me cuidar. Na sexta subi o morro da comunidade de Santa Marta – e quase me caguei de medo. Sambei mais à noite na Pedra do Sal e depois na Lapa. No sábado, peguei uma insolação na praia de Copacabana, subi o morro da comunidade do Vidigal (me caguei pela segunda vez), bebi várias caipirinhas preparadas por um gaúcho, dancei mais um pouco. E tudo a mana queria saber.
À noite, a festa seria no Salgueiro, mas fui ao encontro da minha irmã. Embora retornasse apenas na terça-feira 29 para Porto Alegre, só teria o domingo de folga com ela. Chamei o motorista - sim, minha irmã tinha um “uber particular” – e mesmo que tarde, pude vê-la, de relance, ao chegar, caminhando tranquilamente. Foi o tempo de despedida. Dona Morte veio pela segunda vez nos visitar e em pouco tempo a gangorra desabou no chão. Era o momento da tristeza.
Dezembro começou, sem que no dia 1º pudesse ligar para cumprimentá-la pelo aniversário. O Natal passou e estávamos, nós, caminhando sem amparo novamente. Capengas. Sozinhos. E hoje, só quero que 2016 se despeça levando todas as agruras e sentimentos menos nobres para o passado. Por que em 2017 não quero mais brincar de gangorra. Prefiro carrossel. Ou até roda gigante.

Feliz 2017 a todos!

Que seja uma ano de Deus em nossas vidas, em todos os instantes. E que sejamos capazes de entender - e aceitar - seus mandamentos.


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