O último Carnaval com Chico Science


Publicado em 05/03/11 - 20:03

*Por Xico Sá

E hoje na psicodelia da manhã do carnaval recifense, veio a cena completa dos carnavais da era Chico Science…

Cascos, caos, cascos, caos… o cientista do som desce o elevador do edifício Capibaribe, sétimo andar, de frente para o rio, rua da Aurora, onde habitava, na companhia do jovem expressionista Doctor Mabuse, o mesmo apartamento. Science tira um som dos cascos de cerveja que trocaria, ali na barraca de dona Edna, por garrafas cheias da espuma flutuantes dos mares nunca dantes, cascos, caos, cascos caos… Porque assim como não se banha duas vezes no mesmo rio, como no preceito hindu, um homem de talento nunca bebe a mesma cerveja, em cada uma tem um novo segredo, uma nova espoleta de idéia na espingarda soca-soca do juízo.

Multicoloridos, cérebros, multicoloridos… Cascos, caos, cascos, caos… Lá vem Science descendo do seu castelo alto com um coco dub ralado no pensamento, vai comer aqui ou quer que embrulhe para você comer pelas beiradas dos ouvidos no resto do mundo?

Recife estava no maior rato, gabirus nos armários e bueiros a comer os gloriosos farelos de açúcar do passado, gabirus a roer até a ferrugem dos navios que ancoraram na história, a história que também já devorava, àquela altura, os roedores de holandas e olindas restauradas, os ratos punks que pareciam implorar, como no mantra sagrado, FAÇA VOCÊ MESMO, ei, ei, você ai,mago, vamos mudar esse vento demorado que varre a cidade com a gigante piaçava do tédio.

Cascos, caos, cascos, caos…

Quando Science & Nação Zumbi botaram os pés no chão, o compasso de Capiba uniu-se ao Jazzmatazz, fiat lux, o cheiro do mangue misturado ao cheiro de bolacha que a brisa tange sobre o rio para a gente tomar com café da tarde na Aurora, pense!

Nunca mais a cidade do Recife seria a mesma. Naquele instante João Cabral de Mello Neto, que odiava música, dançou frevo-flamenco, Bandeira perdeu-se em rondós e mafuás de malungos, cai cai balão e queima toda a pasmaceira, Recife, não a Veneza Americana, mas a das festas do Mauristtssatd, do bar do Grego, do Frank´s Drinks, da Soparia e também daquele velho navio que pegava fogo para a gente comer o peixe assado das possibilidades futuras, ali sob âncoras de Brasília Teimosa. Nunca mais Hellcife seria a mesma, até Ascenso Ferreira, depois de comer um de-tudo-um-pouco no Buraco de Otília, ali na mesma área, soltou um desavergonhado peido poético de fazer inveja a Oswald e Mário de Andrade.

Science, aqui como símbolo-mor representante de todos que fizeram juntos o jazz-gréia do fim do mundo, riscou o fósforo e incendiou o paiol da rotina e da falta de possibilidades. É com ele que seguimos nessa narrativa.

*Xico Sá escreve a coluna “Modas de Macho” no Yahoo! Colunistas

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