Blogagem Coletiva

UMA CARTA PARA MIM

Eu sou você, amanhã!



Nêga, é setembro. A data, assim como o dia 7, sempre será importante para ti, guria, que é natural do Rio Grande do Sul. Eu, agora vivo em 20 de setembro de 2009, em Videira, Meio-oeste catarinense. E venho aqui para te dar uma chance, uma ajudinha; sacas? Como se fosse o gênio da lâmpada de “Alladin”. Não! Nada de “Jeannie é um gênio” outra série das suas preferências. Eu sou você, amanhã...

Na década de 80, tu ainda era jovem. Agora também somos, mas eu estou em outra fase. Tenho 35 anos e venho te relatar a linha norteadora das tuas preocupações de hoje, teus anseios e desejos. Essa é a oportunidade de mudar o que me descontenta hoje, já que estás com dez anos, neste anos de 1984.

Sou jornalista. Profissão que sempre almejou exercer no primário, e que espalhava aos quatro ventos quando lhe perguntavam “o que seria quando crescesse”. Parabéns Nêga. Tu conseguiu sobrepor uma sociedade machista, racista, que acreditava que negro de vila seria bandido e negra, puta parideira cheiradora de cola. Sem falar da vitória que foi cursar uma universidade particular, sem ter condições para custeá-la em quatro anos, como os playboy’s e patricinhas que ingressaram contigo. Fez em dez, com todas as dificuldades, mas fez e com louvor.

Não se preocupe queridona. Estou satisfeita com teu profissionalismo. Tu sabe o que fazer e como fazer. Só não faz porque não quer mesmo. Agora já não é mais modesta e tímida, mas a tua auto crítica é real e sem vaidades; ao contrário de muitos que te cercam hoje em dia. Gosto da tua simplicidade pessoal e profissional.

Bom, como ia dizendo, “Eu sou você, amanhã”. Por estar no mercado da comunicação que me faço valer dessa campanha publicitária, que alertava o consumidor de vodkas baratas a evitar a ressaca no dia seguinte, comprando a marca do merchandising. Tu irá ouvir esse bordão e associar a essa carta. Esse, então, será o momento que poderá escolher o que quer mudar na sua vida.

Confesso agora que tu és feliz. Gorda, mas feliz. Pobre ainda, está sempre contando as moedas, mas feliz. Continua gastando com doces, bebidas [agora com teor alcoólico], bijuterias e batons. Agora que cresceu, também é consumidora de hidratantes para o corpo, mãos e cabelos. E adora lingeries e bolsas. Quer se aperfeiçoar, mas não consegue se organizar para concluir um curso de línguas, por exemplo. Tu ainda é solteira e não tem filhos [e talvez seja tarde demais para isso].
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As pessoas gostam de ti e a sorte caminha ao teu lado, assim como o amor dos teus pais, irmãos e amigos. Ah Elaine, na verdade, mesmo com todo o mau humor de vez em quando, a teimosia e a intransigência, eu tenho orgulho de ti. Se transformou numa mulher carismática, inteligente e até meiga.

O problema é essa tua dificuldade com o amor. Não consegue achar o cara certo e o que pensava que fosse, não te quis. Tu se deixou influenciar pela queima dos sutiens e pôs na cabeça que deveria ter estabilidade financeira e independência, para só depois constituir família. Achava que mulher não deveria esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque e se encheu de pré-requisitos socioeconômicos sem sentido perante o amor. Amiga, tu estava errada. Deixa de lado esse lance de feminismo e modernidade que não irá te ajudar a formar a tua família.

Nêga, a gente não cresce sozinha, porque, afinal, vivemos em sociedade e o sonho da liberdade é possível, inclusive a dois. Basta encontrar o senso comum. Quando tu passar pelos 18 anos, lutará contra as desigualdades sociais por uns cinco anos, ferreamente. Se em grupo, numa sociedade, tu acreditava que as pessoas podem ser iguais e viver em harmonia, a dois não deve ser diferente. Então, não separe, segregue e evite demais, o que no coletivo tu tentou juntar. A tua causa pessoal e sentimental também é importante e afetará teu emocional diretamente no futuro.

Então guria, fica esperta, ainda mais hoje, que é o 20 de setembro. Tu sabe o hino. Aliás, aprendeu todos na escola. Se baseia no poema de Francisco Pinto da Fontoura, que diz: “Mas não basta pra ser livre, ser forte, aguerrido e bravo” e mostre sua virtude para que hoje, em 2009, tu não seja escrava daqueles que não tem compreendem, entendem; dos mau caráter e até da solidão. Como canta outro poeta dos tempos de hoje e que tu gostas bastante: O medo é a medida da indecisão; é a linha que separa o mundo; de perder a rédea, a pose e o prumo. É o medo do medo que dá.

P.S.: O resto... O resta está tri. A gente vai levando e ajeitando, principalmente enquanto se tem saúde e capacidade para trabalhar. O resto, se quiser, nada precisa mudar.
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Comentários

Elaine Gaspareto disse…
Linda,
Olha só: sou mais velha que você e acredito que aos 35 dá tempo sim de ter uma família sua.
Aos 40 ou aos 50 também dá. Se joga que dá...
Muito obrigada por me dar a chance de partilhar tua vida, querida.
Beijos.
Renata Peixoto disse…
Parabéns por sua participação!
Adorei sua carta!
Beijão
A Madrasta Má disse…
Olá minha querida... adorei! de todo jeito vc foi, é e será feliz!
Parabéns!
Bjinhos da Madrasta!
Ju disse…
Muito bonito seu post, assim como um tapa na cara para aqueles que pré julgam as pessoas por suas classes sociais, raças, cores, e qualquer outra coisa, afinal tudo é motivo de julgamento.
Acredito que todos devem lutar para alcançar suas realizações, e assim ter o merecido amadurecimento como pessoa.
Parabens
=***
selma disse…
Oi ....que bom esta participação...fazer novos amigos....não é maravilhoso?Vim conhecer este kantinho e lhe dar parabéns pela sua cartinha.Beijos de luz!mariaselmadr.blogspot.com
Giulia e Mônica disse…
Oi que graça a sua carta, esta blogagem coletiva da Elaine foi ótima né...adorei esta parte : "O medo é a medida da indecisão; é a linha que separa o mundo; de perder a rédea, a pose e o prumo. É o medo do medo que dá."

beijos Monica

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