Falando sozinha? Eu??? Claro que sim!


Dizem que nós, pessoas que falam sozinhas, nunca jogam conversa fora... Tem sempre um guardião ao lado ouvindo tudo. Só nunca me disseram e também nunca tive coragem de perguntar se essas criaturas respondem. Se o meu guardião conversa comigo, eu não ouço... E tá bom assim para mim. Não quero ouvir vozes. Basta a minha.

Eu falo sozinha sim. Na verdade converso comigo mesma e quando me canso, falo com objetos. Tenho um terninho jeans que era o foco de longos papos antes. Minha ex-colega de apartamento, a Ana, achava estranho no início, mas depois se acostumou de ouvir eu travar altas falas com a calça e o casaquinho pendurado no fio da parabólica, por meio do cabide, no canto do quarto do Casarão das Noivas. Gostava de conversar com meu terno. Ele era inspirador, he he he.

Hoje eu falo muito, mas com o Shazan. O baby responde, mas é para pedir alguma coisa sempre. Comida, água, carinho ou então para sair. Às vezes ele reclama da vida, mas eu corto logo o papo, afinal, quem quer ouvir um gato relcamar de sua vida boa de felino? Fora isso, ele dorme sempre que eu quero falar de mim. Isso é muito chato... Parece estar se vingando de mim, he he. Em compensação fica ao meu lado ou nos meus pés quando tenho crise de choro convulsivo. Então eu olho para aquela cara peluda e preocupada (sim, eles têm expressões) e logo, logo passa a choradeira.

Quando não é com o Sha, falo comigo mesma, ou com o computador, com a comida, com a tevê. Falo na rua, no chuveiro, enquanto cozinho, enquanto escrevo. Não tem hora e nem lugar para expor meus pensamentos a mim mesma. "Foneticar" os pensamentos é uma boa forma de analisar situações, planejar, refletir...

Há uns 15 dias estava andando pela Saul, depois de fazer uma entrevista na Banca do Portuga, e comecei um diálogo comigo mesma. Depois de passar pela oficina que tem quase na esquina, uma adolescente cruzou por mim e deu uma olhada. Não percebi a estranhesa e segui falando. Então, logo atrás veio a senhora que parecia ser a mãe da jovem.

- Ah, tu também fala sozinha?

- Sim - respondi surpresa e educamente à senhora que também mantém o hábito.

- Dizem que a gente não fala sozinha, que tem sempre alguém nos escutando.

- Ah é? Que interessante...

Nisso já estávamos em frente a farmácia de manipulação e eu não queria perder a linha de raciocínio da minha conversa pessoal, mas também não queria ser mal educada com a "parceira". Mas vi que o assunto continuaria, pois seguíamos pelo mesmo caminho. A suposta filha estava passos a frente de nós, talvez com receio de andar com as duas (que para ela podemos ser perturbadas, he he), que falavam sobre o que significa falar sozinha.

- Tem gente que acha que a gente é louca né, mas eu acho normal. É bom falar sozinha, a gente consegue entender e resolver muitas coisas.

- É verdade. As pessoas não sabem nos entender. Dizem que é coisa de velho, rabugice, loucura.
- A minha estranha, mas eu gosto de falar sozinha. Bom, tenho que ir. Tchau!

Ufa! Até que enfim, sós; como diz o dito popular... Mas então já era tarde. Não lembrava mais aonde tinha parado com a fala solitária.


Comentários

Anônimo disse…
Putz falar com o terninho?
Não poderia ser uma cueca box vermelha, ha ha ha.
EU TBM FALO SOSINHA, he he he.
A tua msg de ontem quase me matou de tanto rir.
A distância eu só faço sexo.
"A gente faz amor por telepatia".... ou por telefone mesmo, he he he.
Tu inventa cada uma.
Bj jana
Adorava conversar com o terninho. Era bem legal, afinal, o primeiro a gente nunca esquece, he he. Putz, amor por telepatia... Essa prática eu já domino, he he he. Mas, falando sério, tu não sabe o horror que foi minha aulinha. Credo! Bjo Jana.

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