PRÊT-À-PORTER

A doença do cotidiano

Estamos de “pronta entrega” nesta vida. Prêt-à-Porter! A modernidade, o cotidiano, a efemeridade está fazendo com que não percebamos a passagem dos tempos. Com isso, vivemos mais apressados, correndo no dia-a-dia, “matando um leão por dia”, como costumamos dizer.
Não temos mais tempo para os amigos, para a família, para os vizinhos (que mal sabemos quem são, muitas vezes). Não temos paciência com os colegas de trabalho, de faculdade, com os filhos... Nos relacionar de forma salutar, saudável é algo que a doença do cotidiano está minando, aos poucos. O bom dia já não sai mais com interesse de nossas bocas. Nossas mentes já estão ocupadas com nossas responsabilidades, prazos, idéias, justificativas, desde que acordamos, e muitos até dormem com esses pensamentos todos.
Já ouvi várias pessoas comentarem que ao dormir, sonham com o trabalho, têm idéias, às vezes até soluções de problemas para sugerir para a coordenação no outro dia. Nesses casos, ao acordarem, ao invés de beberem água, fazer a higiene, ou simplesmente abrirem os olhos para o dia, ficavam lembrando dos sonhos da noite, em busca de detalhes da boa idéia que poderia solucionar embates profissionais. Para muitos este tempo passou. Conseguiram outros meios produtivos e evolutivos de criação. Agora não sofrem mais da doença da pressa ou síndrome da pressa. Foi assim que seus terapeutas classificaram esta fase de suas vidas.
Esta síndrome ou
doença é psicológica, causada principalmente pelo ritmo frenético em que a sociedade moderna se submete nas zonas urbanas e no trabalho. A síndrome não tem reconhecimento médico nem psicológico factível, mas é estudada desde a década de 1980. O aumento excessivo de ansiedade é o principal fator que causa a síndrome da pressa.
Uma pesquisa feita pela International Stress Management Association, entidade internacional que estuda o estresse, aplicada em mil brasileiros economicamente ativos, revelou que 30% deles sofriam da "doença da pressa". Eles apresentavam sintomas físicos (hipertensão e problemas cardiovasculares), emocionais (angústia) e comportamentais (abuso do álcool).
O estudo aponta que só 8% dos entrevistados davam-se conta de que deveriam reduzir o ritmo de vida e estavam tomando ou já tinham tomado alguma providência para isso. Outros 13% achavam que deveriam ir mais devagar, mas não sabiam como fazê-lo. “A idéia de que quanto mais correr, melhor; é muito forte", analisa Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma.Enfim, há solução para os apressadinhos. Basta que eles estejam atentos a como se comportam durante a sua convivência social e profissional. Então é só parar, analisar e recomeçar de novo, com novo ritmo.
(by Elaine Barcellos de Araújo)
A Pressa Febril da Vida Moderna
A lentidão da nossa vida é tão grande que não nos consideramos velhos aos quarenta anos. A velocidade dos veículos retirou a velocidade às nossas almas. Vivemos muito devagar e é por isso que nos aborrecemos tão facilmente. A vida tornou-se para nós uma zona rural. Não trabalhamos o suficiente e fingimos trabalhar demasiado. Movemo-nos muito rapidamente de um ponto onde nada se faz para outro onde não há nada que fazer, e chamamos a isto a pressa febril da vida moderna. Não é a febre da pressa, mas sim a pressa da febre. A vida moderna é um lazer agitado, uma fuga ao movimento ordenado por meio da agitação.
Fernando Pessoa, in 'Heróstato'

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