Ivan Lessa: Uma revoada de blogs



Terça-feira, 17 de outubro. Hoje acordei antes das sete horas. Tomei chá, em vez de café com leite, mais duas bolachas Marie. Vi o noticiário da TV e continuo achando um erro crasso a invasão do Iraque. Creio que foi Leão Tolstói, o grande escritor russo, que disse, “A guerra é uma burrice enorme. A paz é muito melhor.” Preciso relê-lo. O dia continuará com temperatura amena de primavera: 18 graus dos nossos. Esse tempo está enlouquecendo as flores. Aliás, um bom tema e título para poema, canção ou livro: “As flores loucas”.

Não, eu não escrevi as imbecilidades acima. Limitei-me a inventá-las, que idiotice é comigo. Topo qualquer parada.
O que houve foi que terça-feira da semana passada, esse tolo desse dia 17 de outubro, foi decretado como “Um dia na História”, pela organizadora e animadora do movimento “History Matters”, um jogo de palavra com “história”, “matéria” e “importar”.
Mas vocês, que não são bobos nem nada, pegaram de estalo a coisa, confere? Mesmo quem não cria (se esse é o verbo) blogs, ou os cultiva. A “História em porta” (essa minha versão) promoveu, ou decretou, que terça 17 era o dia de se blogar a si próprio, contar tudo, tudo que se fez.
Sei que muitos, no Brasil, preferem usar o verbo “bloguear”. Sou indiferente à voga. Bloguem-se ou blogueiem-se à vontade. É melhor do que ficar na esquina jogando pedra nos passantes. Ou invadir o país dos outros para buscar armas de destruição em massa e espalhar o vírus benevolente da democracia.
Quanto mais blogs (e até mesmo blogues) melhor. As pessoas que ficam em casa, diante do computador, contando o que viram, fizeram, acharam ou deixaram de achar, não irão, ao menos no tempo em que se leva para digitar um soneto, me assaltar na rua, dando uma porretada na minha cabeça e me roubando a carteira e todos os documentos.
Mais uma vantagem do blog: ele é menos nocivo que assalto com arma branca ou escura. Chego finalmente, meio exausto de tanto ponderar, ao cerne da questão: 40 mil cidadãos britânicos participaram da louvável (por eles lá) iniciativa.
Contaram tudo que andaram fazendo no dia 17 de outubro, de forma que, segundo a “History Matters”, fique registrado para o habitante do futuro, a gente boa de daqui a uns 500 anos, quem eram os britânicos.
Não me perguntem o que acho de quem foi nessa, que eu não quero ser mal-educado com meus anfitriães, que tão bem me tratam há quase 30 anos. Mas não posso deixar de citar o Grant Methieson, aqui da Inglaterra, que começou seu blog ponderando o seguinte: “Acho que a maior parte dos dias começa da mesma maneira para todo mundo.”
Boa, Grant, estás por dentro. Cito também a Pierrette Squires (adorável prenome), de Lancashire, que descreve seu banho: uma chuveirada com folhas usadas de chá e o Alberto Balsam Shampoo.
Ou Jane Watts, de Hampshire, sagaz como ninguém, que percebeu um engarrafamento na auto-estrada M27. E parabéns pra você nesta data querida, ó Stuart O'Connor, de West Sussex, que completou 21 aninhos na histórica e importante data. Que coincidência, hein, sô?
E assim por diante. Emoção após emoção. Deveriam ter mentido adoidados, os blogueiros. O que é que eles querem que o futuro ache da gente? Que somos todos uns pascácios? Assim eles vão rir às bandeiras despregadas de nós.
Sim, sim, o lugar-comum atravessará os séculos. Peço que sejam todos mais interessantes, blogueiros que me cercam. Pensem em mim, pensem no pessoal que virá aí daqui a 500 anos.

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