Pandora 1

Tira o teu piercing do caminho, que eu quero passar com a minha dor

Se antes eu não escrevia meus contos ou crônicas por falta de tempo, agora não os escrevo por excesso de paixão ou amor. Ainda não sei. De uma paixão ou um amor não correspondido, de uma paixão ou de um amor doído.

Torço para que seja paixão, pois dizem que é um sentimento efêmero, passageiro, volátil, embora intenso e enlouquecido. Mas não sei não. Se fosse paixão, não seria problema para mim, que sou meio maluca e bastante intensa. Eu digo: “comigo é oito ou oitenta. Não tem meio termo”. Às vezes eu finjo que sim, na verdade, quase sempre, mas é para que no final, o resultado seja oitenta. Gosto do todo, do 100%, da integralidade. Por isso eu finjo, como o diz o poeta português, Fernando Pessoa em Autopsicografia.

O dicionário diz que Paixão é um movimento violento, impetuoso, do ser par o que ele deseja. Atração muito viva que se sente por alguma coisa. Objeto dessa afeição. Predisposição para ou contra. Arrebatamento. Cólera. Amor. Afeição muito forte. Sobre o Amor ele fala que é uma afeição viva por alguém. Semtimento apaixonado por pessoa do outro outro sexo (ou não, hehehe). Zelo, dedicação. Enfim, Amor ou Paixão, o sentimento taí. Antes latente, agora, mais que presente e exposto.

Esses conceitos de nada me adiantam. Já tentei racionalizar o que sinto, não funciona. Acho que meu corpo e meus órgãos criaram anticorpos contra esse processo, pois fui deixar me envolver nessa profusão de sentimentos justamente na fase mais eloqüente da minha vida. Bem no momento em que tudo ia afinado, menos minha vida financeira, claro, que isso nunca é sincronizado com “saldo positivo” comigo.

Pensei que tivesse controle completo de tudo dentro de mim. Sobrevivi a adolescência sem nenhum arranhão, a juventude adulta sem me ferir, mas agora, no furor dos meus 31 anos, fui assaltada. A razão se foi e não disse quando volta, a lógica já era fraca, abrindo espaço esse sentimento que se apresenta. Agora sei que não se manda no coração, não racionaliza sentimentos e nem se escolhe o candidato, melhor, não se exclui os pré-candidatos.

Sempre gostei de música, aliás, adoro músicas, amo poesia. Minha vida é uma trilha constante desde o momento em que acordo, até a hora de dormir, quando seleciono sons que embalaram meu sono e ditarão meus sonhos. Hoje, quem preenche meus pensamentos é ele, quem canta minha vida é ele, quem recita os poemas que leio é ele. Ainda resisto, porque é difícil amar sozinha, mas é inútil. Qualquer música que ouço lembra (cogita ou pré-supõe) o que poderíamos estar vivendo juntos se tivesse espaço para mim naquele peito - cuja boca dizia que o coração era grande e que cabia todo mundo. Mentira. Se não, porque eu fiquei do lado de fora?

O magnifique Nei Matogrosso canta uma versão de Até o Fim, música de Chico Buarque. “Tudo ia bem, até aquele anjo safado, o chato dum Querubim”, me flechar. É, não errrei de anjo não. No meu caso, torto, quem me flechou não foi o Cupido, se fosse, tudo estaria bem. Como foi o Querubim, ele devia estar desasado, machucado, com raiva do mundo e, quando quis se vingar, estava eu passando, passeando, trabalhando ou vadiando na rua. Devia estar com um sorriso no rosto, gesticulando agitada para acompanhar o pensamento que se faz expressar em palavras quando falo sozinha pelas ruas. Devia estar gargalhando de alguma bobagem minha ou de alguma piada sem graça que algum “palhaço do Circo Vostok”, ou seja, pessoa sem graça, tenha me contado há instantes. Ou simplesmente feliz, como era há pouco mais de um mês, todos os dias. Aí, para se vingar, do mundo, olhou para mim.

Pô Querubim, que mira, seu filho da puta!!! Agora veja se termina o serviço e manda alguém para eu desaguar esse imenso amor, antes que eu seque de tanto chorar por ele.

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