A Deriva



Encontro às cegas. Coisa do Yuri, seu amigo de anos, desde os tempos da escola primária. Nisso lá se vão uns 20 e poucos anos. Sofia não faz nada sem antes consultar Yuri, mas o que realmente deveria deixar de fazer era seguir suas tramóias amorosas para ela. Afinal, Yuri não conseguia coordenar seus romances, quem diria fazer isso para os outros. Enfim, ele é uma ótima pessoa. Do bem mesmo, mas com uma tendência terrível de só conseguir casinhos de “última” para si - e para os outros também.

Hoje Sofia passou o dia sentindo arrepios. A cada cinco minutos, um arrepio. Creio que são avisos. Devo cancelar o encontro. Sabia que não devia contar com as armações do Yuri, afinal, nenhuma deram certo até agora. Também sabia que iria ir e é por isso que sempre fica nervosa, como se fosse a primeira vez. Yuri insistiu e ela aceitou, porque afinal, um cara alto, espadaúdo - como dizia sua mãe -, mão grande, perspicaz e olhar sedutor... Quem resistiria? Aiaiai! Pode ser um trote de final de ano daquela bicha escandalosa... Nãooo! Yuri não faria isso comigo.

Sofia é charmosa e elegantemente espalhafatosa. Uma daquelas mulheres que combina a bolsa de acordo com o restante das vestes. Pelo menos duas vezes na semana tem que fazer o ritual da troca. Agenda, carteira, batom e gloss. Tudo para a outra bolsa. Momento importantíssimo para ela, onde qualquer distração seria algo que deixaria de levar e que provavelmente iria usar. Como o celular, por exemplo, que só tira da bolsa para atender ou fazer ligações. É ele! Só pode ser...
- Fala Yuri.
- Como sabia que era eu?
- Querido, são anos de amizade. Acho que sei todas as tuas manias, qualidades, defeitos, horários e hábitos.
- Em que parte do processo está?
- Arrumando a bolsa. Portanto preciso me concentrar e tu não estás me ajudando. Vou desligar.
- Esper...Pronto, tudo organizado. Acho que não esqueci nada com essa conversa torpe do Yuri.

Uma hora depois já estava de banho tomado, cabelos arrumados - a roupa já estava escolhida há dois dias -, perfumada e maquiada. Pronta pra guerra. Tudo estava a seu favor. Os cabelos não se rebelaram e a maquiagem não foi borrada. Estava tudo perfeito, porém Sofia continuava apreensiva, com aquela sensação de que estava esquecendo alguma coisa. O telefone toca quando já girava a chave na fechadura.
- Fala Yuri, o que queres seu chato???
- Ai Sof, tava aqui resistindo, mas não consegui agüentar... O que tu tá vestindo amiga?
- A mesma roupa que escolhestes pra mim. Ainda não mudei, hehehe.Sabia que a bicha teria um chilique se pensasse em trocar a lingerie, quem diria o vestido esvoaçante e colorido que ele escolheu.
- Pára! Nem se atreva a fazer isso.
- Vou me atrasar. Beijo, tchau!
- Merde pra ti, perua.
- Merci.

As nove em ponto Sofia subiu a bordo do Cisne Branco, que já estava em clima de romance para alguns e de sacanagem para outros. Humm, será que posso ficar com as duas opções?
- Boa noite senhora. Aqui está seu bip e o código de acesso.
Por enquanto tudo estava bem. O capitão do navio recepcionava as pessoas com um sorriso charmoso nos lábios. Garçons transitavam livremente entra as pessoas, que sempre estavam com as taças cheia de espumante. Muito riso, muita alegria, música, homens, mulheres e homens novamente. Ai, que delícia... Com tanta tentação e opções vou ter que me contentar com o bofe que o Yuri escolheu.

Yuri havia conhecido Marco numa festa. Já passava das quatro da manhã, quando decidiu tomar mais um champanhe. Como a festa já estava no final, poucos garçons circulavam. Era o sinal, a despedida. De repente apareceu Marco com uma garrafa cheia e gelada de Chandon. Yuri, em seu estado ébrio, atravessou a sala, quase que se arrastando, e de forma ostensiva ofereceu sua taça e a mim, sua amiga. Achei estranho ele não querer falar comigo naquela noite ao mesmo tempo em que curti a proposta de um encontro numa festa de solteiros num navio. Bom, hora de me posicionar no bar como o combinado. Huumm, mais um arrepio, mas agora não dá para voltar do meio do Guaíba. Só a nado.

Distraída Sofia brincava com o bip que não iria tocar, já que não havia anunciado o código na “pescaria”. Por impulso jogou o aparelho no lago, em um ato inconseqüente e antiecológico. Num momento veio a memória a possibilidade de não ser aquele o dia do encontro, afinal, aquele bêbado nunca se lembra de nada, com clareza, no outro dia. De repente, uma mão morena lhe alcança uma taça e a chama pelo nome. Sofia levanta o olhar já com um sorriso harmonioso no rosto, que nem chega a ser subir muito. A sua frente estava Marco. Um homem mediano, que de ombros largos não tinha nada, trajando uma calça preta, com palitó branco e gravata borboleta. No lugar da sedução, o olhar de Marco transmitia uma pergunta que Sofia respondeu aceitando o champanhe.

Devia ter seguido sua intuição, mas como era tarde, tentou não perder o rebolado, por que o bip já era mesmo. Sorriu cativantemente, o que surpreendeu o rapaz que já esperava um fora. Com o espanto Marco deixa cair o seu bip e, ao abaixar-se para pegá-lo acaba por analisar Sofia por um outro ângulo. Troncuda, musculosa e pequena. O vestido parecia largo com o objetivo de disfarçar gordurinhas localizadas. O rosto anguloso demais estava emoldurado com acessórios um pouco grotescos para seu gosto. Pegou o comunicador com um leve sorriso. Ainda bem que tenho meu bip e uma noite de trabalho pela frente. por mim
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Sem revisão. Já estava estressada demais com este texto. Pode falar o que quiser dele... Eu deixo.

Comentários

Barbara disse…
Gostei, apesar do final meio machista.
Anônimo disse…
Elaine....
Seu blog ta dimais, adoro contos hehe... Adorei você... muitu genti boua... Vamu faze muita festa hehehe... bju
Geysa
Oba! Adoro festas, hehehe. Também gostei muito de ti. Creio que vamos nos dar muito bem. Beijocas!!!
Anônimo disse…
Queri, muito bom teu texto. Realmente faltaram correções, mas quem se importa com isto perante este conto fantástico? Achei muito bom e fiquei agradavelmente surpresa! Continue escrevendo! Beijos

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