Mais amor, menos planilhas
Quando
se passa um tempo em hospital, nosso comportamento perante a vida (e sobre ela)
muda. Adotamos novos valores. Aliás, a
busca pela saúde faz isso com a gente. Muda nossa visão.
A
possibilidade da morte é inerente. No entanto, a proximidade dela, sua vigília,
ou sua visita aos vizinhos nos mete medo, nos choca e até nos motiva. Dá forças
para continuar lutando.
Traz
à tona detalhes latentes, como o papel das enfermeiras. Dezessete dias nos faz
conhecer o staff da saúde completo. As picuinhas, divergências, as associações
e amizades... A gente conhece as pessoas de bem, a rotina médica, o cotidiano
do pessoal da higienização. E, de novo, o papel das enfermeiras.
Elas
lidam com papeis mais do que com gente. Penso eu que quatro anos intensos de
estudos, pós-graduação, mestrado, doutorado para os corajosos, é empenho demais
para que tu se pare atrás de uma escrivaninha, coordenando a equipe do turno do
dia ou da noite. Mediando relações interpessoais entre colegas e com os
médicos. Avaliando pacientes rapidamente na semana para jogar dados em
planilhas. Depois de um longo tempo fico
imaginando que elas e nós (profissionais da saúde, enfermos e familiares)
merecemos mais. Mais contato, mais troca de palavras, mais prática, mais amor.
Gestão
hospitalar devia ser secundária na vida profissional das enfermeiras. De
repente, talvez, todo o conhecimento técnico adquirido na academia e nos
estágios pudesse ser humanizado em suas atividades. É certo que elas seriam
mais satisfeitas com a carreira. E nós, mais agradecidos pelo carinho e
atenção.
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