Bê-A-Bá


Desde pequena eu sonho em ter uma ONG. Uma organização voltada a ajudar as crianças carentes e de rua. Queria acabar com a infelicidade e a pobreza entre os anjos da terra. Mas então fui crescendo e percebendo que isso era uma ilusão. Que não poderia irradicar a miséria, a fome, a tristeza, as dificuldades, a falta de oportunidades e de educação na vida desses pequenos seres.

Com o tempo desenvolvi o desejo de participar de alguma insituição como voluntária, mas nunca me identifiquei profundamente com nenhuma para que me dedicasse. Depois, tinha que ser com crianças, no máximo adolescentes. Mas os jovens me cansam rápido. Muito mais do que as crianças, cujo o cansaço é apenas físico e não intelectual como no caso dos maiores. É que reviver o processo juvenil me entedia muito e interferir na experiência dessa galera nem pensar, mas isso não quer dizer que tenha que fazer parte do cotidiano dos jovens, revivendo todas as dúvidas e situações comuns em que todos vivemos nessa fase.

Quando cheguei aqui em Videira mantive a vontade de fazer algo no campo social. Pensei nos velhinhos do Asilo, mas duas visitas a trabalho no local bastou para me deixar deprimida para o resto da vida. Não suporto abandono gente. E pensar que familiares podem abandonar seus próprios pais, por desavenças e desafetos é algo que não entendo. Por isso que eu amo minha família: a gente se pega no pau, mas nos amamos. Quando um precisa do outro, basta uma ligação e tá feita a confusão. Um maremoto acontece na família Barcellos de Araújo. Cada um de seu jeito e a sua maneira, mas sempre ajudam.

Depois de abandonar a idéia de prestar ajuda aos velhinhos pensei nos alunos da Escola Especial Tia Ana (Apae), mas várias visitas e participações em eventos da instituição, também a trabalho, me remeteram a lembranças familiares tristes demais para mim. Em alguns momentos lembro do Vinicius, meu primo lindo que tão prematuramente foi embora desse plano. Crianças nunca deveriam morrer... Mesmo doentes, com síndromes ou abandonadas. Deveria ter uma regra celestial que as protegessem da morte e só as cometessem de felicidades, mesmo sob situações difíceis como a falta de saúde ou dinheiro.

Também descartada essa possibilidade, firmei pensamento nas crianças da Casa Lar. Estava imaginando o que poderia amenizar as dores em suas jovens vidas, além de comida e histórias, que é o que sei fazer e contar. No meio desse plano todo veio o Programa Brasil Alfabetizado, que propões erradicar o analfabetismo no município entre o público a partir de 15 anos. O trabalho é quase voluntário porque a bolsa auxílio de R$ 250 provavelmente será usada para alguma big idéia que tenha a ser desenvolvida junto aos alunos. Afinal, é demais esperar que o governo custeie material didático, projetos, atividades e visitas técnicas ou educativas.

Enfim, me propus a ser alfabetizadora. Se tudo der certo, ou seja, se conseguir captar pelo menos 14 alunos no bairro para ativar uma turma, vou ensinar jovens e adultos a ler e escrever. Já tenho mil idéias em mente e propostas de trabalho com a turma, que nem sequer tem um aluno. Sei que crio expectativas demais, mas seria tri legal se ao final dos primeiros oito meses eles conseguissem identificar as vogais, as consoantes e as famílias silábicas, além de só escrever o próprio nome.

Espero realmente ter êxito nesse projeto e atender as minhas próprias expectativas, além do grupo ao qual possa estar orientando. E sim, sou do tempo do Bê-A-Bá!


Comentários

Anônimo disse…
Que coisa linda vc está fazendo, parabéns pelas idéias...e que esse projeto prospere muito. Admiro as pessoas que têm essa força de vontade de ajudar ao próximo...eu, infelizmente, ainda não cheguei a esse nível de ser humano.

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