Em favor do diploma


Talvez pudéssemos prescindir da exigência do diploma para o exercício da nossa profissão se não lidássemos com a reputação dos outros. Mas, todos os dias, quando saímos para trabalhar, já sabemos: teremos de desvendar o engano, teremos de enfrentar o logro, teremos de desmascarar as aparências. Reduzir o Jornalismo a um mero conjunto de técnicas de redação que podem ser aprendidas com a simples leitura de um manual e que, somadas a algum talento para escrever, nos transformam num profissional de Imprensa é desconsiderar a complexidade da matéria-prima do nosso ofício. A vida, com todas as suas contradições, com sua natureza caótica, nunca aparece elucidada diante de nós. É necessário dispor de ferramentas teóricas para desvendá-la. Do contrário, ela nos enganará.
A humildade intelectual é uma pré-condição para abraçar a carreira de jornalista. Admitir o Jornalismo como uma forma de conhecimento que tem suas leis específicas é outra pré-condição. Aprender Jornalismo não é só aprender a escrever bem. Aprender Jornalismo é aprender a conhecer o mundo objetivo. E conhecer o mundo em volta exige exercitar a mediação da inteligência. A humanidade ainda não concebeu espaço melhor para isso do que uma universidade. E ainda que as faculdades de Jornalismo não sejam tão boas quanto gostaríamos que fossem, um ambiente de aprendizado, num país de tantos iletrados, provavelmente produza algo bom.
A exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista não restringe o talento. Ao contrário, pode potencializá-lo dando-lhe estofo ético, e conferindo ao profissional da notícia o papel que lhe cabe: o de guardião de um bem público que pertence a toda a sociedade.
* Marcelo Canellas, repórter da TV Globo de Brasília
Sou jornalista diplomada
Pronto! Voltei aos meus tempos de estudante universitária para formar opinião sobre a importância do diploma na formação de um profissional. Com todo respeito aos autodidatas, mas sim, o diploma é importante e necessário para a qualificação dos profissionais.
Marcelo Canellas coloca muito bem a sua opinião em relação ao assunto, que já foi polêmico, deixou de ser e voltou em ‘vogue’ novamente. Só que eu vou além. Penso também no esforço pessoal em cursar uma universidade, principalmente quem não tem condições para isso. Eu não tive e ralei muito para ter o meu diploma. Foram dez longos anos de idas e vindas no turno da noite, utilizando ônibus, trem, carona para ir até os bancos da universidade, que ficava a 35 quilômetros da minha casa. Enfrentando a hora do pico, a fome, o cansaço, a falta de grana para Xerox, lanche e até para o transporte. Mensalidade? Atrasava todo semestre e a cada rematrícula, negociações cansativas, juros altíssimos e ainda honorários advocatícios... Pode?
Deixei muitos carros zero quilômetro na tesouraria da universidade para realizar minha meta profissional, para agora ela ser relegada ao nada só porque setores e esses profissionais - muitos nem são autodidatas, apenas curiosos - querem ser reconhecidos, querem ter registro. Pra isso, é preciso conhecer os teóricos da comunicação, as escolas, a linguagem e até as técnicas sim. Tem tantas profissões esperando o reconhecimento de seus esforços, enquanto outros querem jogar fora o trabalho dos outros. Sem diploma? Tô fora!

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