Tabaco em pó
Ah, meu trabalho me diverti! No cotidiano do jornalismo, quando estou apurando as informações, encontro de tudo: gente normal, gente doida; assassino, polícia; travesti e religiosas. Tem até um senhor, cheirador de rapé.
É o seu Willi. Ele é um velhinho alemão, simpático, com forte sutaque que denuncia sua origem. Ó conheci hoje. No meio de uma entrevista, onde ele entrou de gaiato, puxou do bolso o porta fumo em pó dele e deu uma cheirada.
"Eu nunca fiquei resfriado ou doente fumando rapé. Esse eu ganhei (n lembro de onde veio o fumo, mas era importado), mas eu também faço. Ontem mesmo foi a Jussara lá buscar. Olha o cartão dela aqui. Ela é massoterapeuta", disse o alemão.
Divirtido o senhor, que tem várias manias, além de cheirar o pó perfumado e fino, quase uma poeira. E advinhem, ele me ofereceu e eu aceitei. Pus no dorso da mão, entre o polegar e o indicador e mandei ver no narigão chato. A inexperiência me fez cheirar tudo numa narina só. Não tenho a prática do velhinho, mas, na hora, senti todas, mas todas mesmo, as vias se abrindo... Impressionante, fiquei mais de uma hora respirando bem pacas, porém, com aquela ardência na narina direita, devido a canfôra e o excesso do fumo.
Havia feito uma tentativa em Minas Gerais quando fui fazer o circuito do ouro, nas minhas primeiras (e até agora únicas férias que me dei) férias pra valer. Lá o clima é muito seco, mesmo em pleno agostão. Na pousada que fiquei em Ouro Preto, o dono era viciado. E me deu para provar. Receosa, pus usei pouco e não surtiu efeito nenhum. Continuei 'entupida'. Fiquei frustada... Mas o rapé do seu Willi era do bom. Funcionou direitinho. Gostei!
Rapé
O rapé (do francês râper, "raspar") é o tabaco (ou fumo) em pó para cheirar.
O hábito de consumir rapé era bastante difundido no Brasil até o início do século 20. Era visto de maneiras contraditórias: as vezes como hábito elegante, as vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de Assis (Bote de rapé) e Eça de Queirós (Os Maias).
O hábito de consumir rapé era bastante difundido no Brasil até o início do século 20. Era visto de maneiras contraditórias: as vezes como hábito elegante, as vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de Assis (Bote de rapé) e Eça de Queirós (Os Maias).
Vendiam-se caixinhas dos mais diversos materiais, nobres ou não tais como prata, madeira, papel-marchê à semelhança das caixas de fósforo conhecidas como tabaqueira. Algumas eram verdadeiras jóias.
Podia-se comprá-lo já ralado (pronto para consumo) ou ainda um pedaço de fumo inteiro. Nesse caso, com um minúsculo ralador ralava-se o fumo na hora para se obter um cheiro de qualidade superior (da mesma forma como, para se obter um bom café, o grão é moído na hora).
Modo de uso
Modo de uso
Um procedimento, considerado elegante, para se cheirar rapé consistia em primeiro, fechar-se uma das mãos, na vertical. Depois esticava-se o dedão firmemente para cima. Ao fazer isso aparece, na junção da mão com o braço, um oco, produzido pelo tendão esticado do dedo. Nesse oco se coloca o pó. Aproxima-se então o pó de uma das narinas, tendo a outra tampada com o dedo indicador da outra mão. Respira-se com força, o pó entra pela narina e o espirro vem. Do espirro vem o prazer relacionado ao consumo de rapé.
O rapé, em tempos passados, foi o grande estimulante do nariz. Ainda é possível encontrá-lo em tabacarias, fabricados em pequenas indústrias. No Nordeste e Norte do Brasil, entretanto, os mesmos comerciantes de tabaco costumam preparar rapé artesanal e estocá-lo para venda. Esse rapé artesanal adiciona ao tabaco outras plantas, como sementes de cumaru-de-cheiro e umburana, cravo-da-índia, canela, erva-doce, e outros.
Uso tradicional nas sociedades indígenas
Uso tradicional nas sociedades indígenas
Algumas tribos indígenas produzem tradicionalmente seu rapé. É considerado terapêutico, e algumas etnias também o preparam com enteógenos como as sementes de Paricá. Maiormente, entretanto, o rapé indígena é apenas para consumo não-ritual, e cada etnia possui suas próprias receitas.
Os hunikuins (kaxinawás) do Acre o preparam com meia porção de tabaco e meia porção de cinzas de madeiras selecionadas. Consomem o rapé com grandes canudos em forma de V chamados tepí, pois nesse caso não aspiram, e sim são "soprados" por um parceiro. Relatam que o rapé se usa para esfriar o corpo, pois quando se trabalha muito debaixo do sol, ao ir tomar banho de água fria das cacimbas, pode-se pegar um resfriado, e é bom cheirar rapé antes. Mais que estimulante, portanto, o que o uso do rapé faz é baixar a pressão.
A forma tradicional de preparar rapé é utilizando fumo de rolo, preferencialmente ao fumo de corda. Esse fumo é vendido enrolado em palhas de palmeira. O tabaco é fracionado com uma faca (migado) e depois torrado cuidadosamente em uma panela seca, sem deixar que se incendeie. Os outros temperos também costumam ser torrados, pois depois disso é necessário colocar o conteúdo em um pano fino, como o utilizado para fraldas de algodão, enrolado, e golpeado com um bastão para ir soltando o pó fino. Esse pó fino, sem resíduos, é o rapé pronto para ser inalado.
Comentários
vou começar a cheira isso também, he he he
Joachim
io_nishok@gmx.de
Bj
Vou te enviar um email e tentar dissipar a tua dúvida. Mas já aviso que é muito simples: rapé é fumo. e fumo [com ou sem aditivos químicos] faz mal a saúde.
Um abraço