Prazo de validade


Fazem dois anos, dois dias e 15 horas e alguns minutos que aporto por aqui. Me lembro bem do momento em que o ônibus da Unesul começou a descer pelo Contorno Sul e entrou na cidade. A sensação era de que entrava num buraco, tal era o embalo que vinha o veículo rua abaixo. Olhei pela janela e vi casas de diversas cores, mas uma, de madeira, pintada de amarelo foi a que fixou em minha memória.
Amanhecia em Videira e o dia prometia ser quente. Muito quente, pois às 6h30 o sol já brilhava sobre a cidade que me recebia.
Quando embarquei no ônibus, sozinha, em Porto Alegre, não sabia o que me esperava e um frio na barriga me acompanhou até Estrela, onde o Fernando embarcou. Mas a presença de um rosto conhecido não amenizou o medo de uma aventura real, da vida real. A situação não mudou muito quando entrei na sede do jornal A Coluna e ouvia, da recepção, a voz do diretor esbravejando de uma sala. E quando ele chamou, a fisionomia estressada e ansiosa de homem de meia idade também não amenizou o pavor do novo.
Até hoje não sei como tive coragem de mudar. De deixar tudo que tinha, como meus bens mais estimados, que é a minha família e amigos, para partir do zero, numa terra estranha e adversa a tudo que conhecia. Cheguei aqui com um prazo de validade: uma ano, no máximo dois. Já venci há quase dois dias e ainda me mantenho aqui. Porém, era para ter partido há muito tempo já. Muito antes do prazo "regulamentar", digamos assim. Mas, como disseram a minha mãe, eu sou teimosa, e desse jeito pouco se pode fazer.
Nessa cidade tive alegrias e tristezas, adquiri experiência, aprendi coisas, desaprendi outras. Conheci pessoas úteis e inúteis. Testei minha paciência e a perdi muitas vezes. Ganhei e perdi empregos. Fiz amigos e inimigos (pela primeira vez). Amei e odiei com a mesma intensidade, ri e chorei, também no mesmo ritmo.
Enfim, depois de 24 meses, de indas e vindas a terra natal, não sei se consigo fazer uma análise claro sobre esse período. Porém, como tudo que fiz até hoje, de nada me arrependo. Não tenho o desejo de refazer coisas caso pudesse voltar no tempo. Se assim me impusessem, faria as mesmas coisas de novo. Cometeria os mesmos erros e os mesmos acertos. Afinal, é a minha vida, é o que vivi. Porém, a partir de agora é outro papo, que valerá, até mesmo, outro post. Quem sabe contando mais uma nova aventura, uma real aventura de novo...

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