Assalto



Era um entardecer de calor intenso e Sofia caminhava com um amigo pelas ruas do centro de Porto Alegre. Nas costas trazia sua tradicional mochila, onde transportava objetos pessoais, de higiene, blocos, canetas e lápis para anotações, o celular e uma muda de roupa. Era prevenida, já que seu destino era sempre incerto.

Ao lado, um outro andarilho lhe fazia companhia. Ele também gostava de se aventurar pelas ruas do centro em busca de novidades urbanas para ilustrar sua literatura e seu perfil consumista. Os dois iam felizes e falantes pelas Ruas Andrades Neves, Riachuelo, Dr. Flores – cruzando a Avenida Salgado Filho - até que começaram a descer para Júlio de Castilhos. Paradas oportunas aconteciam frequentemente a medida do interesse dos “turistas” da cidade.

Na Rua Voluntários da Pátria um movimento intenso e característico dominava de um dos pontos comerciais, e popular mais, mais conhecido da capital gaúcha. Foram poucos instantes antes deste cruzamento que o silêncio imperou entre os dois ambulantes. Nesses momentos Sofia colocava os fones nos ouvidos para escutar suas seleções musicais preferidas no MP3. Porém, de repente, ela sentiu alguém puxando insistentemente sua mochila, mas não deu atenção. “Ai que chato!” Pensou a guria que já imaginava que o companheiro queria a opinião ou sua atenção para algum objeto de desejo.

Mas o gesto insistente e agressivo fez com que voltasse o olhar para sobre o ombro direito e viu que se tratava de um assalto. Pessoa que não conseguia distinguir os traços do rosto queria sua bolsa mágica, como diziam os amigos. “A mochila da Sofia é como a bolsa do Gato Félix. Sai de tudo dali de dentro.” Ela ficou com medo de perder parte sua casa ambulante e começou ferrenhamente a resistir. O amigo a puxava pelo lado esquerdo, numa tentativa de fazê-la desistir da luta corporal pela mochila. Num dado momento ela conseguiu se desvencilhar das mãos do assaltante, até que saíram os dois correndo até dobrarem à esquerda da Júlio de Castilhos.

O tempo já havia passado e a noite já se fazia presente. Aquela rua sempre foi uma das menos confiáveis para se andar à noite e a sensação de estarem sendo perseguidos persistia. Até que os dois se deram conta que estavam sozinhos na via e para continuarem na fuga do meliante decidiram subir por um andaime, numa obra que viram em seguida que dobraram a esquina.

Os dois pensaram que estavam seguros então, até que Sofia sentiu puxarem seu MP3, que carregava pelo pescoço. “Ah não! Meu MP3 também ninguém vai levar”. Então, teve a sensação de que estava sozinha, que seu amigo havia sumido, e que uma mão invisível continuava a puxar seu tocador de músicas insistentemente.

Joaçaba moça! Tem que descer! ! ! Sofia levanta a “viseira” com a escrita Estrela Descansando e olha em sua volta. Os colegas de viagem olham estressados e o passageiro do corredor já estava em pé, pronto para dar passagem a jovem sonolenta, desorientada e que já havia chego ao seu destino. Quando o motorista percebeu que estava desperta, pára de sacudir seu ombro e volta para a contagem de passageiros, a fim de conferir se não havia mais nenhum dorminhoco atrasando a viagem.

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