Lordy II

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Eu cresci assistindo aos filmes de Benji. Esse cachorrinho fofo aí da foto. Adorava! Como em casa eu tinha o Lordy, meu cão mais fofo ainda, sempre me identificava com o personagem secundário, ou seja, o dono ou a dona do Benji. Quando o filme terminava costumava inventar alguma super missão para mim e o Lordy, que era um companheiro fiel, pois sempre me acompanhava nas minhas aventuras pelo bairro. Era nesses momentos que ele perdia o seu nome de batismo e era chamado de Benji, como o cão ator.

Nós moravamos numa casa emprestada por meu tio, que há muitos anos já residia em Curitiba. Ela ficava na Rua Batista Xavier, no bairro Partenon, em Porto Alegre. Foi numa casa de madeira, cuja base era de pedra, que eu cresci e vivi momentos felizes da minha big infância (por isso e pela casa da minha avó, em Cruz Alta, que sou apaixonada por casas de madeira). Ela era velha, mas por muitos e muitos anos nos abrigou, até que meus tios decidiram vender a propriedade. Foi então que meu pai comprou o apartamento, no bairro Santo Antônio, mas não muito longe dali. Apenas cinco, grandes, quadras da minha antiga morada. Dava para fazer o trajeto a pé, o que fiz muitas vezes anos depois para ir à escola.

Eu não queria me mudar pois nunca gostei da idéia de abandonar meus amigos de infância, que como eu teriam que seguir seus pais mais cedo ou mais tarde. Parecia que antevia que tudo iria acabar. As brincadeiras, a intimidade, o contato diário, as festinhas... Mas, o que eu não previa era que o Lordy teria que ter outro dono, que não fosse eu. E quando me foi informado que não poderia levar meu cachorro para o apartamento, comecei a somatizar antipatias infantis pelos meus tios, por terem causado esta separação. Não entendia porque o Lordy teria que ficar e eu partir. Era tão simples... Só levá-lo junto! Mas não.

Ainda levou um tempo para nos mudarmos, o que não ajudou muito. O Bob, cachorro da minha irmã, morreu de uma dessas doenças que atacam os cães. Foi muito triste... Meu pai até chamou um veterinário para vê-lo, para dizer-nos o que já sabíamos, o que o coração de gente que gosta de bichos sempre sabe. Ele iria morrer. Então, meu pai levou-o para ser sacrificado, para que não sofresse. Então era só Lordy e o Rusty.

Este ficou pelas ruas do bairro. Era muito bravo e velho demais para se acostumar com novos donos. Outro casal de tios, que morava algumas casas acima, ficaram de "olho" nele. Alimentavam e até colocaram sua casa no pátio, para que quando tivesse vontade, aconchegasse a carcaça velha e miúda por lá. O Rusty durou muitos anos ainda. Tava tão velhinho, que já pouco saia da sua casa, e já aceitava a companhia, a comida e os carinhos de quem tivesse coragem de chegar perto dele. Sua fama de cão bravio ainda permanecia, mesmo cego e surdo. Foi em decorrência das deficiências que se reuniu ao Bob. Decidiu dar uma volta, talvez pensando que seu olfato iria ajudá-lo a desviar dos carros também, mas não.

Talvez o Lordy tenha sido o cão que melhor tenha se dado bem dos três. Foi para a casa de uma tia emprestada, irmã de criação da minha mãe, num bairro que nem lembro o nome. Só sei que cada vez que ia visitar meu cachorro, tinha que subir um morro sem igual para mim, até hoje. Mas ia feliz, porque iria ver meu cachorro. Pegávamos dois ônibus e ainda tínhamos que subir um morrão e caminhar por entre casebres até adentrar no lar que agora pertencia ao Lordy.

De lá ele fugiu várias vezes e pouco eles se importavam com o cão. Mas o Lordy sempre voltava, judiado, magro, com o pelo bonito já mal tratado e enozado.

Minhas visitam foram rareando. As notícias do meu cão chegavam quando minha tia ia nos visitar, então. Eu fui crescendo e perdendo o interesse nele. Ele deve ter se sentido abandonado também, largado com estranhos que nem brincavam de Benji isso, ou Benji aquilo. Que já não faziam festas de aniversário. Que já não afagavam seu pelo e nem colocava ele para dentro de casa, escondido, para dormir no quarto, bem quentinho.

Numa das minhas poucas visitas já não encontrei mais o bicho. Ele havia fujido de novo e muito eu torci para que uma família caridosa visse a meiguice em seus olhos, a beleza de seu porte, escondido por trás da sujeira, e o adotasse. Mas depois fiquei sabendo que ele havia voltado, para a referência de lar que tinha e que pouco tempo depois havia morrido, como um artista anônimo e esquecido por muitos, porém, sempre lembrado por mim.
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1 Benji - Amigo Especial

Colby é um adolescente tentando encontrar seu lugar no mundo, que vive com uma família que parece não falar a mesma língua. Seu melhor amigo é Benji, um cachorrinho muito especial.

Os dois, juntamente com Sheldon, um engraçado menino que não é dos mais inteligentes, vão tentar acabar com os planos de um criador de cachorros malvado que quer usar a mãe de Benji numa experiência irresponsável envolvendo bichos.

"Benji - Um Amigo Especial" marca a volta do personagem, quase vinte anos depois de seu primeiro filme.Exibições no Telecine Premium: Sábado, 27/10 às 16h30; Segunda, 29/10, às 11h15.

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Ainda prefiro nosso PImPIm de Bento e o Gatão! Beso

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