U$ 30

Hoje (quinta-feira, 15) estava cansada. Cansada dessa vidinha mais ou menos de mulher independente. Eu não quero ser independente, nunca fui feminista (jamais queimaria meus sutiens em praça pública) e nunca, nunca na minha vida me senti tão abandonada, tão maltratada.

Em Porto Alegre meus amigos atendem meus chamados quando preciso e quando não preciso, eles me chamam porque querem saber como ando, por que estão com saudades, por que querem trocar carinho (menos meu amigo Alexandre, ele é um cético em se tratando de relações humanas). Quando estou em casa, estou sempre cheirando minha mãe, abraçando e pedindo cafuné. Meu pai é mais carinhoso, não preciso pedir, ele dá. Assim como eu também dou.

Nós somos muito parecidos, José e eu. Virginianos, primeiro decanato, teimosos, “auto-suficientes”, dominadores, curiosos, críticos, ácidos às vezes, mas carinhosos, muito carinhosos. Tanto, que nos dói quando temos carinho para dar e o alvo de nossa atenção não quer receber. É bem nessa situação em que me encontro, com o coração repleto de amor, transbordando, sem nem ao menos poder ou pensar que posso dizer Eu Te Amo. Com a mão e o braço doloridos de tanto deixa-los retraídos quando estou perto do dele, para que não escape um afago, um carinho. Com a boca seca só em pensar que poderia ter dado milhões, trilhões de beijos, mas que só pude trocar saliva durante a transa, em um momento de tesão.

Eu cansei. Cansei de pedir atenção, de querer colo, um abraço e ficar com meus desejos no vácuo. Cansei de olhar em seus olhos e não ter o estímulo de que preciso, aquele aceno, o consentimento de quem também quer. Fico sem coragem de me aproximar, fico sem coragem de tentar e receber um não. Foi assim que passei o dia ontem. Desgostosa. O João, que é o único ser que, mesmo triste, consegue me animar com suas palhaçadas, passou lá no jornal e animou o que sobrou de bom dentro de mim, meu riso solto. O Luiz, ser que me agarro como se fosse uma tábua de salvação, me entreteve com suas gentilezas, me animou com suas sugestões, fez minha trilha sonora de trabalho. Maskavo.

Cheguei na redação no meio da manhã, com o intuito de ficar quietinha, no silêncio, fechando minhas três materiazinhas para no início da tarde “picar a mula” e começar a arrumar minha mudança. Que nada, doce ilusão. Passei o dia amortecida, de novo, em frente ao computador, para terminar uma página que tava pela metade, uma matéria de 1800 caracteres (isso é pouco, principalmente porque quando escrevo pouco, nunca é menos do que 2500), a terceira, que deixei para sexta-feira (hoje) e uma outra página, cuja a metade dela era da internet com “trocentas” fotos. Só faltou eu ter um acesso de choro de novo, o que quase aconteceu.

Cansada de tudo isso, fiz o que podia e vim embora. Subi para minha casa, chorei até o ponto de começar a doer meu estômago e parei, porque lembrei que havia me prometido não mais chorar por ele. Troquei de roupa e fui ver gente, pegar sol, tirar o mofo. Isso vai ficar mais difícil de fazer depois que for lá para cima, mas já não reclamo de caminhar, acho que me acostumei. Fui até a XV, tomar uma ceva, e olhar os caras passar. Sim, estou em busca de um ser que me ame, que possa me dar carinho e não se importe de receber também.

Depois de uma hora tomando a mesma Brahma Extra, levantei e fui embora. Como sempre faço quando estou na XV, passei na revistaria para dar uma olhada nos títulos. É claro que não comprei nada. Tudo que me interessou custava no mínimo R$ 9,90. Tem uma revista lá especializada em cursos de pós-graduação. Os olhinhos brilharam quando li a manchete sobre bolsas de estudo, mas esta revista estava na vitrine, longe das minhas mãos. Foi então que vi algo bem bagaceiro (design), com nome ruim - Gerando Saúde , ou algo do tipo - mas que abordava um tema interessante: solidão. Essa era a matéria de capa. A mão não se conteve e pegou a revista para folhear (eu confesso que morri de vergonha, até porque sei que não é permitido ler revistas no estabelecimento de vendas, hehehe). As outras matérias também eram interessante, do tipo, não confunda carência com amor, e outras coisas do gênero. Mas, o que mais me chamou a atenção foi “Você pagaria U$ 30 por carinho?” Então não resisti e li a matéria, depois de ter respondido, mentalmente, que sim, pagaria essa grana.

Essa é a nova moda em Nova Iorque, segundo a reportagem. Pessoas com mais de 30 anos (eu tenho 31, rumo aos 32), estão pagando U$ 30 para ir em um encontro, reunião ou festa, onde as pessoas trocam carinho, cafunés, abraços. Pessoas estranhas fazendo e pagando pelo o que eu tenho de graça, em casa com meus pais, na minha cidade com meus amigos, e até na balada, com a pegada desconhecida da noite. Mas aqui em Videira, com exceção do João e do Luiz, não troco carinho com ninguém mais. Portanto, pagaria sim e bem feliz. Não sei viver assim, sem atenção. Ah, e não estou falando de sexo e muito menos esse esquema americano. Nesses encontros é proibido sexo.


Acho que vou me proibir também. Não estou vendo vantagem em gozar, dormir, acordar e ir embora. Vou lançar essa moda aqui no Brasil, mas vou ser solidária, não cobrar nada para atender os desejos das pessoas, até porque, se a carruagem continuar a andar como está, eu é que vou ser a minha principal cliente. Haja verdinhas, hehehe.

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