No chuveiro

Ontem foi o dia das percepções. Entendi que o que sinto não é ciúmes. É muito pior. Muito pior. É inveja. Nunca tinha sentido isso antes. Meus amigos sabem a aversão que tenho de pessoas invejosas, que cobiçam o que é dos outros. Que põem olho gordo na felicidade dos outros.

Eu não sou assim. Me olho no espelho, me vejo, mas não me sinto. O que sinto é um mal estar enorme de ficar vendo o carinho com o qual ele a trata. Os desejos absurdos que realiza e a atenção dispensada. Aliás, a paixão que sente. Por que a ela ele tem sentimentos e isso tudo é a minha dor de cotovelo, são as causas da minha inveja. Meu estômago passou a tarde embrulhado, dolorido de tanto chorar baixinho no banheiro. Minha concentração foi pro saco de novo. Meu trabalho tá atrasado e minha vontade se foi, mais uma vez. Tudo por pura inveja. Morte aos invejosos!!! Esse era o meu lema. É o meu lema. Mas eu não quero morrer, jamais.

Prefiro o ciúmes do que a inveja. Sentimento medíocre e vil que o ser humano pode ter. Mas até nisso esse “Amor” me mudou. Ei! Volta pra cá. Eu me quero de volta. Tô trocando tudo que tenho e conquistei nos últimos tempos pra me ter de volta. Mesmo sozinha, seja aonde for, eu me quero de volta. Estou trocando o local aonde moro, com a vista que sou apaixonada e que me acalma todos os dias, por paz de espírito. Estou trocando meu trabalho, por um futuro incerto para que assim possa ter condições de eu mesma acalantar meu coração magoado, desrespeitado, incompreendido. Estou trocando tudo isso por horas de sono ininterrupto e por sonhos palpáveis. Mas também daria tudo, inclusive todo o meu ser, por momentos, ou por um momento, de carinho verdadeiro.

Já não sei o que me banha pela manhã. Só sei que as lágrimas engrossam o jato de água todos os dias, de novo. Mas o pior é que o cume da minha depressão amorosa me fez chorar no meio da redação. Já não bastam mais as pessoas estranhas nas ruas, meus travesseiros, o banheiro, as estrelas e a lua. Agora meus colegas são testemunhas da minha fragilidade. Acho que cai na degradação total. Se isso é amor, não quero mais sentir isso. Vinícius de Morais que me perdoe aí do céu, mas tu deve ter sido um baita filho da puta. Sete casamentos, sete amores, sete mulheres desencantadas. Não acredito que alguma tenha saído sã, inteira. Essa estória de amor infinito, eterno enquanto dure na boca de despretensiosos é o que faz das pessoas a miséria humana.

Num futuro não muito longínquo vou deixar de me incomodar com a felicidade alheia e voltar a ser feliz. Aguardem notícias positivas. Essa promessa eu vou cumprir, por mim...

“De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo”


Vinicius, é claro

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