Martha Medeiros



Mais uma ela está em minha vida. Quem diria, uma escritora, cronista, contista, poeta, que nem um pouco havia me chamado a atenção até ler Persona Non Grata. Além de desta obra, que estou relendo no momento, leio apenas sua coluna no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e nem é sempre. Ela não acerta o ponto na maioria das vezes. Mas em seu livro de poemas...

Martha apareceu em minha vida quando estava no Rio de Janeiro, uma parada breve de quatro meses que me fez ver que aonde quer que eu esteja, tenho que ser firme, ter coragem, além de crer em mim mesma, na minha capacidade e força de vontade.

Eu pegava praia no Leblon todas os sábados e segundas. Durante a semana ia distribuir currículo e tentar entrevistas informais para possíveis oportunidades de emprego. No domingo eu ia a feira, uma delícia. Descia cedo para a avenida e percorria, com um pastel na mão e um copo de cana na outra, a feira de verduras, carnes, especiarias e roupas, de ponta a ponta. Conversando com os vendedores, é lógico. Ao meio-dia eu já estava alimentada por todo o dia e com a sacola cheia de frutas e verduras da época.

Sempre que saía fazia questão de parar pelo centro histórico da cidade e ver as novidades culturais da semana, como mostras de fotografias, exposições de quadros e esculturas, shows e até cinema. Quando não era isso ia aos pontos turísticos dali e por último, um café expresso com chantilly, num sebo e cyber, bem em frente ao Museu de Arte Moderna do Rio e nos fundos do Teatro Municipal. Bem localizado o pequeno estabelecimento. Ali ficava horas, vendo o acervo e lendo trechos de livros de artes que, pelo preço, não compraria tão cedo, assim como ainda não comprei. Entre um café e uma leitura escrevia cartas para os amigos do Sul, saudosa dos encontros e das trocas de carinho aos quais sou viciada. Ali eu encontrei a Martha. Cuja a compra só me foi instigante pelo preço - R$ 3.

Persona Non Grata foi uma grata surpresa. Como diz Millôr Fernandes na orelha do livro, “nem melhor, nem pior, apenas excelente”. Ainda na lapela da obra, ele segue com a rasgação de seda, que concordo: “ É do tipo poesia sincera, a dela. Quero dizer, não inventada, mas feita de impressões existências, pessoais, sentimentos que às vezes nem se realizam senão no ato da apreensão, e crescem no ato do registro”.

No meio de tanta saudade, tristeza e indecisões Martha me trouxe um pouco de tranqüilidade ao meu ser. Passei a respeita-la por isso. E agora, de novo. No meio desse turbilhão de emoções que está meu coração, na profusão de pensamentos incertos, confusos, e sozinha, volto a reler seu livro e nele vejo que muitas coisas se encaixam em minha vida de hoje. Mais uma vez ela trás o desabafo de meu peito em suas palavras simples e arranjadas também de forma simples.

Decidi que vou publicar, rotineiramente, textos do Persona em duas séries. Os poemas que se referem, melhor, se encaixam na definição dessa coisa que tenho com o Téo e aqueles que mais gosto. O primeiro deles já foi publicado. Hoje vocês lerão outro, sem título, como são todos os textos desta obra, ou quase todos, só com a assinatura.

I
Quando você vê um mar azul-turquesa
Num final de tarde no meio da semana
E você está longe de casa
Mas por perto dá para ver um pescador de cabelo branco
E agasalho azul-marinho
Segurando a usa sorte
Esperando um peixe enorme
Tomando sua cerveja importada da Austrália
E você não sabe que horas são

Isto é felicidade

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