"A vida é mesmo assim"
Há 20 anos, eu tinha 19. E a disposição de uma manada de
elefante. Já estava na universidade, fazia estágio e trabalhava. À noite eu
saia. Era época boa da Osvaldo Aranha, a avenida mais agitada, popular e
cosmopolita de Porto Alegre. Era ali que as tribos se encontravam.
Aos domingos, o momento era para curtir o Brique da Redenção
e o Mercado do Bom Fim, com seus bares, sorveteria, e reencontrar os parceiros da
noite anterior, do Pub Cais, também do entorno. Naquele 1º de maio, um domingo
de sol aquecedor, era dia de Fórmula 1. Dia ver o Senna cruzar a linha de
chegada em primeiro lugar. Era a promessa!
Naquela madrugada, uma bebedeira juvenil me fez ver o mundo
girar. Cheguei em casa, liguei a TV para esperar a corrida, que seria cedinho.
Ao raiar. Mas adormeci. Só me lembro de sonhar. Sonhar com um acidente e a
morte do piloto brasileiro, ídolo de todo o povo.
No início da tarde mais um encontro ao sol, com os amigos,
foi registrado. No meio da conversa e relatei meu sonho esquisito, que,
tristemente havia sido confirmado: Ayrton Senna do Brasil havia sido declarado
morto, num acidente na curva tamburello em San Marino. De lá para cá muita
coisa mudou: houve o primeiro impeachment presidencial, a eleição do primeiro
governador de esquerda no RS, depois a eleição do primeiro presidente de
esquerda. A economia se estabilizou, eu criei foco na vida e me formei.
Nos anos seguintes eu consegui meu primeiro emprego como
jornalista graduada, fiz novos amigos, cursei um MBA, morei fora do Estado e
sozinha, namorei. Amei demais, sofri por amor, troquei de emprego algumas
vezes, mudei de sonhos, de planos e obtive algumas conquistas. Meu pai morreu e
fiquei triste por meses. Voltei à Porto Alegre, viajei para Salvador (BA), duas
vezes, reencontrei meus amigos. Troquei de emprego de novo, virei adepta do
sexo casual, somei 10 tatuagens e dois piercings, viajei novamente, comprei um carro.
E lá se vão 20 anos, bem resumidos. Mas tem coisas que não
mudam e nem se abrevia: como o racismo - agora, pessoas ditas civilizadas, educadas e
inteligentes jogam bananas para outras pessoas num ato obtuso - e a morte.
Comentários
quanto ao racismo... vale tudo. a cor da pele vira comércio, duvidosamente em nome de um bem - amor ao próximo, onde a realidade é bem, bem outra!
um bj, minha querida.
aqui fica a minha admiração.
Quanto ao racismo nem tem o que disser ! concordo com a Le
bjs