Intuição

Não sou uma pessoa sensitiva e dizem que o ser humano não possui a característica da intuição, que isso só pertence aos animais irracionais.
Pois bem, então eu sou um bicho. Gosto de pensar que em alguma vida antiga ou próspera eu fui ou serei uma borboleta. Uma borboleta intuitiva.
Ontem, meu eu borboleta entrou no quarto para dormir, depois de um sábado agradável na presença das visitas. Eu, que quase fui para uma rave em Curitiba (Cosmonn, eu acho), estava me recolhendo para os braços de Morfeu pouco depois da meia-noite. Horário marcado para o inicio do agito eletrônico. Ainda bem que recuperei a lógica e não fui. Fiquei em casa.
Ao deitar-me displicentemente na cama, após fazer o ritual de sempre (ir ao banheiro, escovar os dentes e fazer xixi, ligar o som na Verde Vale ou deixar rolar o CD que fica dias no aparelho), com as asas abertas em forma de cruz, percebi que o celular tinha ficado sobre os pés da cama. Como hábito peguei-o para ver as horas e vi que não tinha sinal no meu quarto. Achei muito estranho, porque ele funciona bem por aqui. Fiquei movendo por alguns instantes pelo ar e nada do sinal. Desisti. Estava com sono. O pensamento foi: não faz mal, além da Léo, que pensa que estou na rave, e a Val, que sempre liga tarde, mais ninguém me telefona mesmo. Fui dormir. Mesmo achando estranho e pensando que alguém poderia me ligar.
Hoje pela manhã acordei cedo, como de costume, resisti ao cigarro do alvorecer, fui ao banheiro e bati com a asa direita no play do aparelho (não vou contar como as borboletas fazem xixi. Isso é muito íntimo... hehehehe), para em seguida dormir ao som da voz de Zeca Baleiro. “deus, me deixa ser guru dessa galera, vê que tá todo mundo à minha espera, para anunciar um novo fim...” Mas não antes de ver as horas e perceber que o sinal havia voltado.
Mais tarde, em torno das 9 horas, levantei as anteninhas e percebi a movimentação do povo que iria passar o dia em Joaçaba. Depois de intuir que todos haviam usado o banheiro, lá fui eu fazer a higiene e tomar café. Fiz como durante a semana, comi sucrilhos na sacada e depois, como havia feito canja na noite anterior, um pouco de sopa. A Silvitcha veio me convidar para ir com eles, mas estava pensativa (Domingos me deixam saudosa ultimamente e resolvi escrever no meu livro de sentimentos) e decidi ficar, até para adiantar compromissos que assumi na região.
Então, no meio de afazeres dominicais, músicas, cigarros e vinho, minha irmã liga e atendi com voz ainda preguiçosa, mas contente por saber que ela havia tomado a iniciativa. Como é de costume entre os Araújo, nada de ficar enrolando. “O pai não passou bem ontem e o Jarbas e a mãe levaram ele para o hospital, pensando que fosse gastrite, mas foi uma ameaça de enfarte.”
Pensei no convite negado ontem de ir para uma rave, em Curitiba, onde só teria que pagar a entrada, o resto era free. Pensei no sinal fora de área do celular. E pensei em novas amputações. E ainda lembrei que tudo parece se repetir. Felicidade excessiva, bem-estar, início do ano (aliás, mesma época também), novas oportunidades, e meu pai doente. Lembrei que há poucos dias postei um texto que falava sobre exatamente este meu receio, de que tudo ia bem demais.
Então, acho que fiz orações a menos ultimamente, que só o pedido de reveillon de saúde para minha família e amigos do peito, juntamente com paz e amor tenha sido com pouca fé, e decidi voltar a fazer tudo de novo, com mais força e confiança. Tudo para que o que esteja acontecendo novamente, não tenha continuidade. E para que eu deixe de ser borboleta intuitiva, porque essa brincadeira não tem graça.

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