Reintegração de Posse

É isso que a justiça concede aos proprietários que têm as suas propriedades invadidas por pessoas que se acham no direito de tomar o que é dos outros. Nos últimos anos, essa questão é muito comum entre agropecuários e os Sem Terra. Mas neste caso, o envolvimento de um terceiro organismo também contribuiu para que isso ocorresse com mais ênfase, que é a administração pública federal, que há décadas negligencia a reforma agrária no país.

Mas neste post não vou falar sobre a questão prática e sim emocional. Pela primeira vez vou vestir a pele dos Donos de Terra e tentar explicitar aqui o que eles sentem quando têm suas terras de volta. Vocês devem estar confusos sobre o porque disso agora, mas - como diz a minha mãe, que adora um dito popular -, “para um bom entendedor, meia palavra basta”.

Então, a sensação que tenho é que, depois de anos trabalhando, ambicionando, idealizando sua propriedade rural, o fazendeiro consegue a tão desejada terrinha para cultivar, desenvolver o que melhor saber fazer no seu espaço. Começa então a usufruí-la com emoção, prazer, alegria. Compartilha com a família e amigos. Tira seu sustento do seu sonho, que agora se tornou realidade. De repente, tem sua área invadida por pessoas estranhas que querem ter direitos pelo suor do seu trabalho. E depois de uma longa luta judicial, tem de volta a sua propriedade, que, na verdade, não é mais sua. Deixou de ser.

Ele tem de volta seus hectares desmatados, com sua criação abatida, com sua casa destruída e, de brinde, vem algum metros de terra com o cultivo de legumes e verduras que nunca fizeram parte da sua horta ou plantação. Então eu imagino que este homem deva começar a se questionar. “Por que querer de volta algo que, além de não me pertencer mais, é menos do que eu tinha? Esse sonho não é meu. Me devolveram a esperança e vontade de outros. Não me identifico mais com essa propriedade, a não ser pela determinação que empenhei nela para conquistar o espaço que aqui foi construído em outrora. Mas, e agora?”.

A terra está toda lá, hectare por hectare, mas já foi toda mexida. Perdeu-se o valor agregado. Por isso, o que era 100%, agora é 75% e dependendo dos que vier acontecer com este homem - suas emoções e ações -, num piscar de olhos ele terá 50% do que tinha sobre suas terras reintegradas.

Pois é. Esperança perdida, sonho roubado, desejos negados. Será que vale a pena ter de volta um “campo minado”? Confesso que as minhas terras já estavam improdutivas, alias, sempre foram. O pouco que usufruía delas mal davam para o sustento diário. Eu só percebi isso há pouco tempo. Dei-me conta que era uma simples lavradora em terras arrendadas. Não havia conquistado nada, apenas estava “alugando o terreno” de terceiros. Então, estou consciente que não tenho direito a propriedade, mas ao valor agregado sim. Foi o meu suor que coloquei ali, todos os dias, sob sol, sob lua. Foram minhas emoções, meus sentimentos, meus desejos, meu riso e meu pranto.

Agora, o Dono das Terras quer fazer um novo acordo. Quer voltar a arrendar sua propriedade para mim. Só que isso tudo não está nas cláusulas contratuais dele. É o mesmo espaço, talvez até um pouco maior, e pelo mesmo preço, segundo ele. Para mim, o preço é outro, pois perdi o valor agregado com o qual entreguei as terras e isso se perdeu. Não sei se vale à pena começar de novo, para depois ter que devolver, novamente, o que não me pertence, com todo o fruto a ser coletado depois.


Vejo-me ao lado do fazendeiro agora. Vislumbrando as terras de outrora e comparando-as com as de agora. O por do sol continua o mesmo no horizonte. É a única coisa certa no momento.

Comentários

Anônimo disse…
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