Quase Dona Fifi



Quer saber? Já sei o que me faz mal nesta cidade. É a falta de vida social. Desculpem-me os videirenses, mas ninguém sabe fazer amizades por aqui. Por conseqüência, ninguém sabe conviver com outras pessoas, de forma desinteressada, relaxada, sincera. Ninguém conhece o prazer por aqui. A vida social é nula e não por que faltam alternativas e sim porque para se fazer algo em conjunto tem que ter um motivo, um bom motivo na opinião deles.

Precisa de algo melhor do que estar reunido com amigos? Num bate-papo sem compromisso, sem provocações ou comprovações do intelecto ou do conhecimento geral. Tudo aqui precisa de uma justificativa, de alegação, de razão. O povinho chato esse. Feio e ainda se acham no direito de serem prepotentes. Não consigo entender como conseguem ser felizes assim. Meu lema aqui - Vivo por prazer e tenho prazer em viver - está quase indo por água baixo.

Minha luta aqui é diária. Preciso matar vários leões por dia. E no final de cada batalha, ao invés de descontrair, vou dormir. Minha rotina agora é acordar, ir trabalhar, almoçar, voltar a trabalhar, trabalhar à noite ou então ir para casa, assistir um DVD (cujas opções são ridículas - só tem bomba em lançamentos e o acervo é tão insosso, quanto as pessoas que aqui moram).

Estou quase virando personagem de novela. No sábado (agora também quase que diariamente), abro a janela do quarto, que dá de frente para a rua, e fico vendo o movimento da rua. De vez em quando passa uma curiosa que, louca para saber quem tu és, te cumprimenta, pisa na grana para chegar mais perto e começa uma conversa de averiguação. Pode uma coisa dessas? Não sei ainda como esse povo ainda me acha simpática. Sou tão evasiva que nem me suporto. Pôxa, só quero ficar aqui, vendo as pessoas passarem e cumprirem a sua rotina, sem nem ao menos queres saber quem são. Mas não, elas querem saber quem sou, o que faço, com quem trepo e por que vim parar nesse fim de mundo.


Acho que tenho o direito de usufruir da minha janela sem ser incomodada, mas morar num apartamento térreo não permite que o meu isolamento seja completo. Então, o povo daqui não saca que nem me proporcionam prazer e nem solitude. Por esse motivo que sinto tanta falta da minha cobertura. Lá em cima, ninguém me mirava ou me questionava. Se assim o faziam eu não sabia. Já tem gente morando lá em cima. Na primeira semana fiquei triste, mas daí me lembro das dores no coração que estava sentindo nos últimos dias e percebo que estou bem melhor agora, no andar térreo, sendo alvo de Donas Fifi’s.

O meu único receio é que esteja enveredando para este perfil, mesmo não sendo uma característica minha. A vida pessoal das pessoas do entorno só me interessa quando elas querem partilhá-las comigo, de livre e espontânea vontade, ou quando estou entrevistando-as. De resto, resguardo-lhes o direito de mantê-las em sigilo. Então, deixem-me quieta. Já que não conhecem o significado de amizade e lazer, também não quero ser uma Dona Fifi em formação.

Comentários

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